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segunda-feira, 18 de março de 2013

O toque do barbeiro.






Que beleza o socialismo democrata. Um sistema que funciona mesclado com o capitalismo, amigo do rei, e quando suas mazelas aparecem quem paga, logicamente, é o povo - jamais os políticos ou os empresários que se mancomunaram com os políticos, ou mesmo os bancos que emprestaram tanto dinheiro aos Estados e que agora não têm como receber de volta o capital emprestado.

Há na mídia todo o tipo de falatório, todo o tipo de análise sobre o que chamam “taxa aos depositantes” e o que os depositantes consideram simples roubo descarado e impune de suas economias precaucionarias. Sim, estou falando do último roubo socialista ocorrido em Chipre.

Quem aqui se lembra do dia dos 50,00 da era Collor? Você se levantou de manhã pensando que sua vida iria ser a mesma de todos os dias anteriores, que você poderia manter o planejamento que tinha para a vida e, de repente, você só tem com 50,00 pilas nas suas contas bancárias.

Os brasileiros chamam isso de “sacanagem”, mas é puro roubo do Estado, que é uma entidade vaga, não tangível, onde as pessoas do mal se apropriam de dinheiro e poder, e nós, as pessoas do bem, votamos nesses crápulas para que isso possa acontecer.

Os políticos tomam tais decisões na maior tranquilidade, (já que com eles essas coisas não acontecem devido aos privilégios que mantém) na maior cara de pau. Fazem seus discursos como se o fato de tomar o seu dinheiro em nome do Estado fosse um ato de heroísmo, ou serviço à pátria. Justificam; ou isso ou o caos total. São terroristas, isso sim.



Há num post abaixo no Blog Um documento construído pelo Boston Consulting Group, está todo em inglês e se você não lê essa língua vou falar de alguns pontos importantes sobre ele. Queria ter feito isso antes, mas o mercado esteve tão elétrico neste domingo que demorei a me ater ao relatório do BCC.

Lá ele afirma que:

O BCC acredita que os políticos através dos Bancos Centrais – a despeito de protestos em contrário - estão tentando resolver a crise criando inflação porque as alternativas ou não são factíveis ou não são atrativas para os políticos. Ele explica as alternativas.

*      Austeridade – fazer uma poupança precaucionaria e parte reprodutiva para pagar a conta criada pelos gastos públicos mal endereçados, pela corrupção, pelo simples e puro roubo do Estado, pelos desperdícios e negociatas – isso seria uma receita para uma longa recessão e agitação social.

*      Maior crescimento – isso é inalcançável por causa de mudanças demográficas e falta de competitividade da maioria dos países.

*      Restruturação dos débitos – inviável por causa dos bancos que não estão estruturados para acatar as perdas que a medida iria gerar.

*      Repressão financeira – Manter taxas de juros muito baixas, abaixo do crescimento do PIB por muitos anos consecutivos. Isso está sendo implementado nos EUA, mas é difícil de manter a situação se o crescimento for baixo e a inflação também, e é isso exatamente o que está ocorrendo no momento.

Inflação seria a opção preferida  - a despeito do potencial de instabilidade econômica financeira que ela trás e as dificuldades para as classes médias e baixa para poupar. No entanto, apesar da tentativa de inflacionar a economia nos últimos 5 anos, isso não tem funcionado por causa da pressão da desalavancagem criada pela crise e pela baixa demanda por crédito, fato criado pela enorme pilha de dinheiro impresso e construído pelos Bancos Centrais. Apesar da “solução inflacionária” ser a mais tentadora, ela pode e deve ser vista como criadora de pressões sociais desagradáveis. Então o que os políticos e Bancos Centrais devem fazer?


As Dívidas são o problema. Na sociedade moderna não se pode apagar as dívidas dos balanços ou dos nomes das pessoas associadas a elas. Se você deve, deve para sempre. Uma das maneiras de fazer com que você consiga pagar as dívidas é diminuindo seu valor monetário, criando inflação e mantendo a sua renda crescendo.


Como o problema é global o que deve ser feito?

Reconhecer a realidade. Vamos supor que os políticos reconheçam os fatos (eles sabem, mas não querem tomar a atitude politicamente errada) Partindo desse reconhecimento seria precondição para tomar o remédio apropriado. Os problemas apontados:

Ø  As economias ocidentais, notavelmente as Americana e Europeia, têm que resolver o excesso de débitos acumulados nos últimos 25 anos de expansão econômica baseada na expansão do crédito, e resolver o problema da bolha imobiliária conjuntamente.

Ø  A extrema necessidade se desalavancagem nos preços deve levar a um período prolongado de baixo crescimento, o que poderia, dados os dados históricos precedentes, durar mais de uma década com o perigo de se prolongar devido ao envelhecimento da população desses países.

O Gráfico pertinente a esses tópicos está no artigo completo, é o Exibit 1.



Quanto mais os políticos e Bancos Centrais demorarem a reconhecer suas dívidas e adiar a solução dos problemas mais profunda vai ficando a crise e o tamanho dos problemas.

Na Europa as dívidas não são dos Estados somente, estendem-se ao setor privado na Espanha, Portugal, Irlanda e outros países.

Os bancos na zona do Euro estão totalmente descapitalizados e enfrentam fortes perdas nos seus portfolios de bonds, já que os Estados não podem também pagar as suas dívidas enormes. Os Estados estão sendo forçados a recapitalizá-los.

Há um notável “desbalanço” de competitividade entre os países, principalmente quando a competição se dá com a Alemanha. A pré-condição para a redução de dívidas seria a geração de superávits comerciais, o que significa redução salarial a níveis abaixo dos Chineses por exemplo. 

Reduzir os débitos se mostra uma tarefa impossível.

Sendo assim para se reestruturar os débitos seria preciso uma efetivação de redução do nível de endividamento de 180%%. Esse número é baseado na premissa de que os governos, as instituições não financeiras os donos de imóveis possam juntos sustentar no máximo um debito de 60% do PIB, a uma taxa de juros de cerca de 5% ao ano e uma taxa de crescimento de 3% ao ano. Maiores taxas de crescimento e menores taxas de juros iriam ajudar a redução dos débitos ao longo do tempo.

 Isso quer dizer, apagar 6,1 trilhões de euros da conta das dívidas
.
Quer dizer meus amigos que implementar tais medidas fará com que quem emprestou o dinheiro tome o prejuízo, ou seja, se você está comprando títulos do governo, preste muita atenção com a sua poupança imaginária.

A próxima medida é uma tarefa difícil. Os políticos já concluíram que tem de taxar o setor privado e a população em geral. (exatamente o que está acontecendo em Chipre agora mesmo). 

A taxa necessária por país na Europa está nesse gráfico Exhibit 3 do documento

Quer dizer que neste momento os países, para melhorar o seu nível de débitos como percentagem do PIB deve tomar da poupança ou riquezas já taxadas às seguintes percentagens:

Alemanha 11%
França 19%
Itália 24%
Grécia 47%
Espanha 56%
Portugal 57%
Irlanda 113%
Total da eurozona 34%
UK 27%
USA 26%

A esse tipo de roubo, que vão perpetrar, sem a menor dúvida, um dia destes, chamam de “corte de cabelo”. Aliás, o primeiro povo a experimentar o toque do barbeiro foi o povo de Chipre.

Daí para frente o relatório nos mostra que é impossível resolver a questão sem que se faça exatamente esse tipo de coisa, que se fazia no passado, na Mesopotâmia, por isso o nome do relatório.

Enfim, o que se pode retirar de tal proposição é que nada disso vai acontecer por vontade politica.

Pode acontecer numa situação de desespero dos governos, e o fato de que não se pode mais controlar as dívidas governamentais nos países desenvolvidos mostra que o mundo vai virar de ponta cabeça em poucos anos.

Como não é possível também adivinhar o futuro podemos simplesmente apostar e viver com otimismo.


Notas.

1 - Não é possível copiar as imagens dos documentos do relatório. Você tem de vê-los no próprio relatório do BCC.

2 - Os textos em vermelho são de minha autoria.





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