ESCRITO POR LEANDRO ROQUE | 14
MARÇO 2013
ARTIGOS - GOVERNO DO PT
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Primeiro passo: mantenha no
Ministério da Fazenda um indivíduo que não sabe a diferença entre câmbio fixo e
câmbio flutuante, que acha que a "carestia" se combate manipulando
alíquotas de imposto, e que passou toda a sua vida pública defendendo
explicitamente a ideia de que "mais inflação gera mais
crescimento".
Segundo passo: dê a este cidadão o
controle total da economia, transformando-o em um genuíno czar.
Terceiro passo: coloque na
presidência do Banco Central um sujeito completamente submisso, inócuo e
apagado, sem nenhum histórico fora da burocracia estatal, sem voz própria e sem
nenhuma presença impositiva. Para garantir que este cidadão não passará
aos mercados a "perigosa impressão" de ser um sujeito vigoroso e
durão no trato dos juros, escolha um indivíduo de aparência cômica, de rosto
rotundo, fala mansa e com uma vultosa protuberância ventral (não, isso não é um ad
hominem; pode parecer besteira, mas em um ramo que denota extrema
autoridade, como o de estar no controle da moeda do país, a aparência e a
postura são fundamentais para se transmitir confiança. Compare o
grandalhão e charuteiro Paul Volcker,
de voz firme e gestos decididos, ao delicado e vacilante Ben Bernanke, de voz
macia e gestos hesitantes, e veja a diferença entre o respeito que cada um
deles impõe. Ou compare Henrique Meirelles e Gustavo Franco a Alexandre
Tombini).
Quarto passo: ordene a este
desmoralizado cidadão que ele seja totalmente submisso às ordens expedidas pelo
bufão que ocupa o Ministério da Fazenda, desta forma transformando aquele
ministro no real presidente do Banco Central, e o presidente do Banco Central
em uma mera marionete que está ali apenas para passar a impressão de que o
Banco Central possui alguma independência.
Quinto passo: com grande
frequência, coloque esta dupla para dizer aos jornais que o governo não medirá
esforços para derrubar os juros bancários, estimular o crédito (leia-se: o
endividamento e o consumismo) e desvalorizar o real em relação ao dólar.
Sexto passo: feche os portos
aumentando as alíquotas de importação de praticamente todos os produtos estrangeiros:
de automóveis a produtos têxteis; de calçados e brinquedos a artefatos de
madeira, de palha e de cortiça; de lâmpadas e sapatos chineses a pneus, batata,
tijolos, vidros e vários tipos de máquinas; de reatores para lâmpadas a vagões
de carga; de triciclos, patinetes, bonecos, trens elétricos e quebra-cabeças a
produtos lácteos (leite integral, leite parcialmente desnatado e queijo
muçarela) e pêssegos. (Sério, está tudo aqui e aqui).
Sétimo passo: diga a todas as
grandes empresas do país que elas são obrigadas a produzir utilizando uma
determinada porcentagem de insumos fabricados no Brasil.
Oitavo passo: peça
encarecidamente aos privilegiados fabricantes destes insumos que não se
aproveitem deste monopólio para aumentar seus preços (eles obviamente não
atendem ao seu pedido).
Nono passo: para ajudar as
grandes empresas a adquirir estes agora mais caros insumos, e simultaneamente
para ajudá-las em seus projetos de investimento, libere o BNDES para lhes
emprestar dinheiro público a rodo, tudo a juros subsidiados. E como o
BNDES não tem todo esse dinheiro, peça ao Tesouro para arrecadar mais dinheiro
emitindo títulos da dívida, fazendo com que a dívida bruta do país chegue a R$
2,823 trilhões em dezembro de 2012.
Décimo passo: para comprar estes
títulos emitidos pelo Tesouro, o sistema bancário cria dinheiro do nada, pois
opera com reservas fracionárias. Essa inflação monetária, somada a toda a
expansão do crédito já feita para estimular o consumismo (expansão essa que
também é feita por meio da criação de dinheiro pelos bancos), aumenta
enormemente a quantidade de dinheiro na economia, aditivando o aumento
generalizado dos preços.
Décimo primeiro passo: para conter toda a
escalada de preços gerada por estas medidas intervencionistas, pela expansão
monetária e pela desvalorização cambial, comece a mexer nas alíquotas de
impostos que incidem sobre vários produtos na esperança de mascarar seu
encarecimento. Peça para as empresas de energia elétrica reduzirem suas
tarifas e ordene à estatal petrolífera que não suba seus preços (embora ela
também seja obrigada a utilizar insumos nacionais mais caros em suas
plataformas).
Décimo segundo passo: consiga a façanha
de fazer com que essa petrolífera estatal, que detém as melhores jazidas de
petróleo do país, produza menos
petróleo do que no ano anterior. E que ela perca 40% do seu valor em
três anos.
Décimo terceiro passo: faça cara de
paisagem (mas com muito laquê) para o fato de que, em apenas 2 anos de governo,
o índice de preços oficial — cuja metodologia é pra lá de branda — já acumulou
um aumento de 14%. (A título de comparação, a economia suíça precisa de
14 anos para acumular este mesmo aumento inflacionário).
Após tudo isso, diga que tudo de ruim é
culpa da crise europeia (ou, quando possível, daquele cidadão que saiu da
presidência no final de 2002), e que tudo de bom que continua funcionando é
mérito exclusivamente seu. Desfrute de mais de 80% de aprovação de um
povo incapaz de estabelecer uma relação de causa e efeito.
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